O projeto Pigmentos Daqui, contemplado com recursos da Lei Aldir Blanc - Palmas - Prefeitura de Palmas, com o apoio do Governo Federal - Ministério do Turismo - Secretaria Especial da Cultura, Fundo Nacional da Cultura, nasceu da curiosidade e da necessidade de desenvolver tintas gráficas que sejam viáveis, sustentáveis e não tóxicas. Preocupados com a degradação do bioma cerrado e na busca de formas de apresentar suas riquezas, os artistas Vone Petson e Pablo Marquinho se propuseram a pesquisar tintas com pigmentos e óleos desse bioma. Em especial a tinta gráfica, material muito utilizado pelos dois artistas em suas produções de gravuras.
Pintar e manipular cores era originalmente apropriar-se do poder corante das substâncias naturais, do pigmento propriamente dito. Esse ato se perpetua ao longo da história e os artistas ainda se servem desses elementos na construção de suas obras. O solo é rico em pigmentos e nesse projeto nos debruçamos sobre as propriedades corantes desses pigmentos, em particular, os ocres. A escolha se deu pela característica física de alto poder corante e pela estabilidade do pigmento.
Pensar a tinta é, ao mesmo tempo, pensar em três elementos bases: o pigmento, o aglutinante e o solvente. Esses três elementos são a base de todas as tintas.
O pigmento é o que dará cor à tinta e em nossa pesquisa ele foi obtido através do processo de decantação. Destes, o que demonstrou uma maior desenvoltura tanto na abundância e facilidade de se encontrar, quanto nas características físicas foi o vermelho ocre. Bastante abundante na cidade de Palmas e facilmente encontrado. Esse solo resulta de milhões de anos de decomposição de rochas basálticas, muito ricas em nutrientes, como o ferro, responsável pela coloração avermelhada.
Como aglutinante experimentamos os óleos de coco babaçu, baru, buriti, pequi e sucupira, além da goma arábica. Entre os óleos o que se mostrou mais promissor como aglutinante foi o de pequi, apresentando uma boa secagem e adesão do pigmento no papel.
Além do preparo de tinta à base de óleo, experimentamos também tintas à base de água, tendo como aglutinante a goma arábica e a glicerina, que também é umectante. As impressões com essa tinta se mostraram com uma maior textura e volumetria sobre o papel. Apresentou como desvantagem impressões não muito precisas, recomendada para matrizes com traços mais grossos e poucos detalhes. Outro elemento comum em todas as experimentações foi o uso do carbonato de cálcio como carga (filler), ou aditivo mineral para auxiliar na proteção à tinta, proporcionando aumento das suas propriedades mecânicas.
Outro ponto analisado na pesquisa foi o monitoramento do PH das tintas, buscando um equilíbrio entre o PH do pigmento, dos óleos e demais substâncias agregadas nas fórmulas. Em alguns casos foi necessário corrigir o PH que estava alcalino para um PH neutro, que é o mais indicado para a utilização em papel, garantido a integridade desse suporte por um longo período de tempo.
Ainda existe um longo período a percorrer e que ainda exige mais pesquisas para se chegar em uma consistência mais viscosa da tinta o que exigirá a continuação da pesquisa. Mas essas primeiras experimentações já se mostraram bastante viáveis no desenvolvimento de tinta gráfica a partir de elementos do cerrado.
Conheça o vídeo sobre o processo de pesquisa dos artistas no desenvolvimento de tintas gráficas com elementos do cerrado:
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